segunda-feira, agosto 29, 2005

De afrodisíacos
Adélia Prado
Tenho um pouco de pudor de contar, mas só um pouco, porque sei que vou acabar contando mesmo. É porque lá em casa a gente não podia falar nem diabo, que levava sabão, quanto mais... ah, no fim eu falo. Coisa do Teodoro, ele quem me contou, você sabe, marido depois de um certo tempo de casamento fala certas coisas com a mulher. O seu não fala? Pois é, e de novo tem um tempão que aconteceu. Lembra aquela história dos queijos? Igual. Demorou um par de anos pra me contar. O pessoal dele é assim, sem pressa. Tem uma história deles lá, que o pai dele, meu sogro, esperou 52 anos pra relatar. Diz ele que esperou os protagonistas morrerem. Tem condição? Mas o Teodoro — foi quando a gente mudou pra casa nova — teve de ir nas Goiabeiras tratar um marceneiro e passou, pra aproveitar, na casa da tia dele, a Carlina do Afonso, e encontrou lá o Gomide. Tou encompridando, acho que é só por medo do fim, mas agora já comecei, então. Então, diz o Teodoro, que o Gomide tirou do bolso do paletó uma trouxinha de palha de milho, cortadas elas todas iguaizinhas e amarradas com uma embirinha da mesma palha. Escolheu, escolheu, pegou uma bem lisa e bem branquinha, tirou o canivete do outro bolso, lambeu a palha pra lá, pra cá, e ficou um tempão lhe passando firme a lâmina, do meio pras pontas, de ponta a ponta, entremeando com lambidas. Depois, ainda segurando a palha entre os dedos, foi a hora de tirar e picar o fumo de rolo bem fininho. Ia picando e pondo na concha da mão. Acabou, guardou o rolo e ficou socavando o fumo na mão com a ponta do canivete. Depois pegou a palha, mais uma lambida e foi pondo nela o fumo, espalhando ele por igual na canaleta formada, pressionando bem pra ficar bem firme. Deu mais uma lambida na parte mais próxima do fumo e com os polegares e indicadores foi enrolando o cigarro devagarinho, uma enrolada e uma lambida, uma enrolada e uma lambida. Com o canivete dobrou uma das pontas para o fumo não escapar, tirou a binga do bolso, acendeu e pegou a pitar. Agora é que vem, ai, ai. Teodoro falou que o tempo todo da operação ele não despregava o olho daquilo. Disse que nem sabe o que tia Carlina arengava, só punha sentido no Gomide fazendo o pito. Diz ele que foi uma coisa tão esquisita — esquisita, não —, tão encantada que ele ficou de pau duro. É isso. Falou também que ficou doido pra sair dali, comprar palha, fumo de rolo e repetir tudo igualzinho ao Gomide. Eu entendo. Quando conheci o Teodoro, ele fumava e eu achava muito emocionante. Tenho muita saudade de quando não existia essa amolação de cigarro dar câncer, nem de mulher ser magra. A gente tinha mais tempo para o que precisa, não é mesmo? Será que faz mal mesmo? Colesterol, depois de tanto barulho, estão falando que já tem do bom. Qualquer dia vou pedir ao Teodoro pra dar uma fumadinha, só pra fazer tipo.
Texto extraído do livro "Filandras", Editora Record - Rio de Janeiro, 2001, pág. 53.

terça-feira, agosto 23, 2005

Tudo sem um todo...



De que vale TUDO sem um todo ?
O conceito de tudo pode abranger um espaço meu que difere do teu...

Ser todo(a) teu(tua)
não é(será) necessariamente
ter tudo...
falta
estar todo...
completamente...



...portanto...

não teremos tudo...
...esperamos ter todo o contexto
para que nos seja permitido
TUDO


[ ora bolas, que conversa mais inexorável... ]

Freedom

Liberdade...
Querer estar
e não, necessariamente, ir para.
Provavelmente, sair de.
Tipo: não procurar e simplesmente encontrar...
Contraditório...
Ambivalente... ( claro ! )
Oportunidade de [se] permitir
de esquecer prioridades
de ousar à primeira percepção...
Qual fenomenologias...

terça-feira, agosto 09, 2005





...não se sabe as razões, apenas há um mistério à volta deste fenómeno antigo: a mala das mulheres...um enigma para os homens...uma salvação para as mulheres... ali encontramos tudo, mas nem todos conseguem ter acesso...lembro-me que qdo tinha os meus 14 anos e perguntavam-me o que tinha na mala respondia sempre: estou pronta para viajar para a Grécia...sabe-se lá porque eu respondia isso...mas sentia-me segura e pronta para qualquer intempérie e nunca duvidei que poderia de facto ir parar à Grécia a qualquer instante...nada detém o poder da mala feminina...o seu conteúdo é pessoal e os seus itens de valor incalculável...sinto-me nua sem aquele conteúdo...conteúdo?...ops...nem sequer sei o que realmente lá dentro se encontra...apenas sei que está lá...e isso conforta-me...

segunda-feira, agosto 08, 2005

Rebirth


Diz Alexander Lowen:


O comportamento natural do ser humano é estar aberto à vida e ao amor. Entretanto, a nossa cultura fez-nos acreditar que não é assim, que devemos estar fechados e desconfiados. Pensamos que, ao agir desta maneira, não seremos feridos pelas surpresas da vida - mas, na verdade, o que acontece é que não estamos a aproveitar nada.

terça-feira, agosto 02, 2005



RESET ........